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| Calendário prevê 15 amistosos da nossa Seleção (www.lancenet.com.br) |
A possibilidade de mudança do calendário brasileiro para adequação ao modelo
europeu foi recentemente rechaçada pelo presidente da CBF, José Maria Marin. No
entanto, jogadores com experiência no Brasil e que jogam na Europa, além de
jornalistas europeus, atestam que o abismo entre os dois calendário é maior que
o mandatário imagina.
O zagueiro Felipe Santana, do Borussia Dortmund e com boa passagem pelo
Figueirense fala da importância de uma pré-temporada adequada ?" algo impossível
com o atual formato dos Estaduais:
- Antes do início, treinamos aqui um mês e meio. No Brasil, temos o que eu
chamo de pré-temporada ativa, com jogadores adquirindo forma física jogando os
Estaduais. Isso acaba em sobrecarga e as lesões são inevitáveis.
Nesse ano, o Santos tem sido um dos maiores prejudicados com o calendário,
perdendo o craque Neymar em vários jogos do Brasileirão por conta de convocações
para a Seleção. Já em 2009, clubes como Coritiba e Flamengo já se colocavam a
favor da mudança no calendário. O
presidente do Peixe Luis Alvaro Ribeiro
admitiu que tem conversado com dirigentes da CBF para que haja um bom senso:
?" Tenho conversado bastante com o Marin e com o Marco Polo. Os clubes são os
grandes prejudicados dessa anomalia, em que marcam jogos da Seleção em datas do
Brasileiro, ao contrário da Europa.
Além de prejudicar fisicamente os jogadores, obrigados a participar de um
Estadual sem condições físicas ideais, e os clubes, que são obrigados a jogar
desfalcados por falta de pausa para jogos de seleções, outra consequência da
inadequação do calendário brasileiro ao europeu é a falta de sincronização, com
janelas de transferências em datas distintas.
O diretor do Vasco, Daniel Freitas, admitiu que a adequação facilitaria até
negócios:
?" Facilitaria na questão do mercado. Mas acho difícil que ocorra.
COM A PALAVRA
Mikel Recalde, repórter do jornal "As" (ESP)
O fortalecimento econômico do Brasil manteve jogadores como Neymar fora da
Europa e fez com que os grandes clubes locais mantivessem seus principais
atletas. Isso significou também que a Seleção Brasileira voltou a convocar
jogadores que atuam no país e o calendário passou a incomodar.
O calendário europeu não é perfeito, pois há jogos de clubes logo depois de
partidas pelas seleções. E se Messi ou Falcao se machucam por suas seleções?
Quem paga o pato são seus times. No entanto, creio que é o modo mais efetivo de
operar. Parar o campeonato durante jogos de seleções é o mínimo que se deve
fazer. Se não é o caso, as equipes com os melhores jogadores, com mais
"internacionais"? são as que mais sofrem.
O calendário europeu é definido e organizado, apesar de não ser perfeito. Não
é possível que esses clubes mais prejudicados não pressionem as federações, eles
perdem muito assim.
Gonçalo Lopes, repórter do jornal "Diário de Notícias" (POR)
É incompreensível como as autoridades do futebol brasileiro ainda não
adequaram o calendário ao dos principais campeonatos da Europa. Quem perde muito
com isto são os clubes brasileiros, que ficam delapidados dos principais
jogadores em alturas cruciais da temporada.
Face ao maior poderio econômico da Europa, os clubes brasileiros arriscam
sempre perder os melhores jogadores no meio do ano, uma alteração para o
calendário europeu evitaria esse cenário e proporcionaria aos clubes uma melhor
preparação da temporada e ainda com os cofres cheios de euros.
Outra coisa que não se entende é o fato de, por vezes, os clubes nem pararem
nas datas Fifa. Em toda a Europa os clubes param quando as seleções jogam, não
são prejudicados. O exagero no número de jogos também é digno de nota: 70 ou 80
jogos não existem. Na Europa, o máximo de partidas é 60 por temporada.
LNET!: Qual é a importância dos amistosos da pré-temporada?
JONAS: São
jogos de nível que fazemos, mesmo distante da forma ideal. Nós tivemos jogos
contra Tottenham e Porto, que são times de ponta, e já somos testados depois de
três, quatro semanas de treinamentos muitos fortes. Então pegamos times de
outros países, é muito bom para condicionar.
LNET!: O respeito com a data Fifa é essencial para o jogador?
JONAS: É
fundamental para todos: clube, jogador e seleção. Defender a seleção, seja qual
for, valoriza o jogador, e todos nós temos o sonho, e o clube quer que seu
atleta esteja lá. Mas não pode ficar sem ele em suas partidas decisivas.
LNET!: O assunto da diferença do calendário brasileiro é comentado na
Europa?
JONAS: Fala-se bem pouco aqui, eles nem se interessam, na verdade. Só
mesmo em procurar jogador novo, às vezes acompanhar alguns jogos, mas não há
muita noção de temporada. Mas quando conversamos sobre isso, na verdade não é
muito legal, eles até riem da nossa cara quando nós fala da situação.
LNET!: E a questão de adiamentos de alguns jogos?
JONAS: É errado ter que
fazer isso, algum time fica com um, dois jogos a menos, prejudica o Campeonato
Brasileiro.
| LAOR, presidente do Santos (à esquerda), está tentando convencer Marin a mudar o calendário (Foto: Ivan Storti) |
DIRIGENTES FALAM
Você é a favor da adequação ao calendário europeu, com
espaço para excursionar e valorizar a marca do seu clube?
Eduardo Maluf, diretor de futebol do Atlético-MG:
"Eu sou a favor dessa adequação do calendário porque assim o Atlético teria a
chance de ter 30 dias de pré-temporada no Brasil e mais um tempo para essas
excursões para a Europa ou outros continentes, já que é uma ótma oportunidade de
gerar receita. Hoje em dia nenhum clube nacional disputa amistosos
internacionais de grande porte. Acho que faz falta. Você leva o nome do clube
para o exterior, valoriza sua marca e tem a oportunidade de gerar receita.
Paulo Angioni, gerente de futebol do Bahia:
"Acho que isso é uma discussão muito longa. Nao é uma situação fácil de
adequação. Não tenho dúvida que com o nosso calendário, o intercâmbio ficou
prejudicado. Eventualmente os europeus também vêm pouco ao Brasil, porque não há
data para que eles participem de algum torneio. Eu vejo como uma adequação muito
difícil. Não é uma coisa muito tranquila você trazer o modelo do calendário
europeu para o brasileiro. Tem muitos complicadores, não é fácil de ser
resolvido.
O ideal seria que você pudesse equacionar o propósito do calendário deles,
até por causa das janelas, mas eu entendo muito bem as dificuldades de
equacionar isso. Em virtude de entender como muito difícil essa adequação, eu
prefiro não dar uma opinião. Pode ser muito vantajoso, mas traria muitos
complicadores."
Felipe Ximenes, superintendente de futebol do Coritiba:
"Eu penso que é uma questão mais complexa do que pura e simplesmente adequar
o calendário. Não é uma simples mudança porque o Brasil tem um tamanho
continental, então a adequação é quase que uma adaptação de um continente a
outro. Tem que levar em conta os países na Europa. As dimensões dele são bem
menores que o Brasil. Transcende o fato de pura e simplesmente mudar. A gente
tem o mercado do Oriente Médio, do Japão e outros mercados que estão aparecendo
e são importantes para o futebol brasileiro e não necesariamente têm as mesmas
datas da Europa.
Então é um estudo mais aprofundado, não tão simples. Você imagina: a gente
pensa muito no Brasil, a gente fala de Série A e B, mas temos um esporte de mais
de 50 mil profissionais e a mudança para o calendário europeu pode impactar nos
campeonatos estaduais, o que pode gerar um desemprego altíssimo aos
profissionais de futebol. Com a adequação, como ficariam os estaduais? Seria um
efeito cascata nos outros campeonatos.
Eles (campeonatos europeus) têm essas divisões em baixo, mas essas divisões
conseguem disputar porque os times da série principal jogam bem menos que a
gente, aí fica mais fácil de adequar em baixo. Você imagina o Coritiba este ano:
jogamos quase 80 partidas. Do que adianta adequar o calendário brasileiro aos
europeu, se depois nos estaduais você não consegue descansar os 45 dias que os
europeus descansam?"
Daniel Freitas, diretor de futebol do Vasco:
"Facilitaria na questão do mercado, principalmente o mercado europeu, que é o
grande consumidor. Porém, pela questão cultural do futebol brasileiro, acredito
que seria difícil essa adequação. Para que isso (excursões) acontecesse, seria
necessário ter um período de pré-temporada maior e, com isso, ter a data dos
Estaduais agendada para mais tarde, mas não necessariamente seria preciso
adequar o calendário brasileiro ao calendário europeu."
Rodrigo Caetano, diretor-executivo do Fluminense:
"Os pontos positivos são maiores do que a possibilidade de excursionar. a
gente coloca questão de transferência, de montagem de elenco, que na verdade
seria melhor, ficaria claro que é melhor se a janela fosse adequada, mas envolve
questão de patrocínio e até a cultura, então não tem como falar."
Luis Alvaro Ribeiro, presidente do Santos:
"Nós pedimos uma maior racionalidade no calendário, para que os clubes não
sejam tão prejudicados. Me preocupo muito com este assunto e tenho conversado
bastante com o Marin e com o Marco Polo.
Os clubes são os grandes prejudicados
dessa anomalia, em que marcam jogos da Seleção em datas do Brasileiro, ao
contrário do que acontece em toda a Europa.
Contratamos os estudos do Amir Somoggi (consultor de marketing esportivo),
para mostrar o quão prejudicial está sendo. Impede a aproximação com os europeus
também. Depois que o estudo estiver pronto, vou convidar outros clubes para
discutirmos sobre o assunto."
Patrícia Amorim, presidente do
Flamengo:
"Desde que haja um acordo com a CBF e os clubes, a adequação é válida. Desta
maneira os clubes podem ter a opção de excursionar com suas equipes no meio do
ano, por um período de cerca de 30 dias, por exemplo. Justamente quando as
equipes europeias estão iniciando suas pré-temporadas, gerando uma exposição da
marca institucional, dos produtos licenciados e também gerando receitas,
possibilitando, desta maneira, a internacionalização da marca Flamengo."
Duílio M. Alves, diretor adjunto do Corinthians:
"Existem várias sugestões e formas de pensar. Acho que o calendário precisa,
sim, em um futuro próximo, ser refeito.
Acho que é uma coisa que o Brasil, a
própria CBF e as federações deviam aproveitar e fazer como foi feito na Copa do
Brasil do ano que vem, com a participação de clubes que estão na Libertadores.
Acho que, com o tempo, com bastante conversa e estudo, é uma coisa para se
planejar pra 2014 ou 2015, é uma coisa pra ser feita com calma e repensar tudo
isso"
Julio Casares, vice de Comunicações e Marketing do São Paulo:
"Eu acredito que seria bom, poderíamos excursionar, levar o time para fora do
país, divulgar a marca. A nível de mercado seria bom. Mas acho que temos que
respeitar os direitos de televisão também, que injetam um dinheiro significativo
nos clubes."
Arnaldo Tirone, presidente do Palmeiras:
"O problema é o calendário. Estamos focados no Campeonato Brasileiro, não
queremos falar de outra coisa. (Em relação ao Campeonato Paulista) Não faremos
reclamação, porque esse formato já vem sendo usado faz tempo. Na verdade, isso é
um fato irrelevante, porque já está decidido. Não adianta a gente falar
nada."

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