Numa tarde agitada na Câmara, o deputado federal Romário de Souza Faria
(PSB-RJ) recebeu na última terça-feira a reportagem do jornal "O Estado de S.
Paulo" em meio a três reuniões, telefonemas de outros parlamentares, recados de
seus assessores e muita correria, literalmente. Toda vez que cruzava alguma área
pública do Congresso, Romário acelerava o passo e deixava todos para trás. É uma
estratégia para fugir das fotos com fãs, o que ele não evita se for
abordado.
Numa conversa que se estendeu pelos Anexos II e IV do
Congresso, pelos corredores de acesso ao plenário e ainda em seu gabinete,
Romário fez duras críticas à cúpula da CBF e chamou o vice-presidente da
entidade, Marco Polo del Nero, de chefe do "cartel" da entidade. Também acusou
os dirigentes da confederação de superfaturamento na compra de terreno para a
nova sede da CBF. Ele parecia seguro e tranquilo, apesar do assédio de todos os
lados, e demonstrou intimidade com seu papel político. Em relação às críticas de
Romário aos dirigentes, a assessoria de imprensa da CBF disse que só se
manifestaria mais efetivamente ao tomar conhecimento de todo o teor da
entrevista, publicada nesta quinta-feira, na qual disse, entre outras coisas que
a próxima eleição presidencial da CBF "vai ser comprada".
No final do ano
passado, Romário protocolou na Câmara o pedido de uma CPI da CBF. E, ao ser
questionado se acredita não haver interesse do governo em investigar a entidade,
ele respondeu: "Estou aqui há pouco mais de dois anos e já pude reparar que não
existe interesse do governo em abrir CPI nenhuma. Não me pergunte por quê. Com
uma CPI do futebol, iniciada agora, o Brasil teria condições de chegar ao ano do
Mundial limpo, de cara nova. Reina muita bagunça no nosso futebol. O estatuto da
CBF, até onde eu sei, incentiva os investimentos nas bases, na formação de
atletas femininas, tantas outras coisas. E não se vê isso".
O ex-jogador,
campeão mundial pelo Brasil em 1994, destacou que "é tudo muito nebuloso na CBF"
e, ao comentar o fato de que as eleições na entidade são marcadas por denúncias
de compra de votos há décadas, soltou: "A próxima eleição (em 2014) vai ser
comprada também. Torço e acredito que apareça algum candidato avulso, contrário
aos métodos atuais e que possa incomodar os atuais dirigentes".
Romário
ainda apontou Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e ex-diretor de
seleções da CBF, como um nome de sua preferência para assumir a entidade que
controla o futebol brasileiro. Ele disse que o dirigente "tem seus defeitos e
problemas, como todos nós, mas já deu provas de que é um ótimo administrador e
botou o Corinthians no topo". "Se ele hoje, o Andrés Sanchez, se candidatasse à
presidência da CBF, muito provavelmente teria meu apoio. Outro nome que também
seria excelente é o Raí, um cara íntegro, inteligente, muito respeitado. O ideal
seria uma chapa unindo eles dois", completou.
E o ex-jogador não recuou
quando voltou a ser questionado se está realmente convicto de que a próxima
eleição da CBF já está comprometida. "Não tenho dúvidas. Vai rolar muito
dinheiro. O candidato avulso deve brigar contra isso. Não pode se equiparar ao
grupo dominante e sim passar para as federações e clubes a ideia de que é
preciso iniciar um processo de profissionalização e moralização do futebol",
ressaltou.
"SAUDADES DE TEIXEIRA" - Romário também disse nesta entrevista
que chega até "a ter saudades" de Ricardo Teixeira no comando da CBF, embora
tenha sido um crítico feroz do antecessor de José Maria Marin na presidência da
entidade. "É impressionante a quantidade de coisas erradas na CBF a cada dia. O
Teixeira, nos últimos dez anos, foi muito prejudicial à CBF, envolvido em muitos
escândalos de corrupção. Mas, por outro lado, olhou muito para o futebol da
seleção. Hoje, nós somos o 18.º no ranking da Fifa. É por isso que falo de
saudades dele, mas só por isso", reforçou.
Já ao ser questionado sobre a
possibilidade de Del Nero assumir a CBF, na eventualidade da saída de Marin,
Romário fez sérias acusações ao dirigente: "Ele (Del Nero) é o pior dos três. É
o cabeça do atual cartel que virou a CBF. É quem faz os negócios, as negociatas
da entidade. É ele quem manipula os presidentes de federações, de clubes. Se
chegar à presidência da CBF, vamos viver um inédito período de ditadura no nosso
futebol".
Romário disse defender o voto das federações e dos "mais de 200
clubes" filiados à CBF para eleger o presidente da entidade, e não apenas dos
times que fazem parte da Série A do Brasileiro, conforme prevê o estatuto do
organismo. O atleta, porém, admitiu estar descrente com a possibilidade de Marin
ser afastado da presidência da CBF e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa
do Mundo de 2014, após ter pedido para a Fifa tirá-lo destes
cargos.
"Pedi, não obtive nenhum retorno nem vou obter. Quem dá as cartas
do futebol não se interessa pelas minhas denúncias. Mas a população reconhece e
cobra lisura e honestidade cada vez mais. O Marin tem que sair e deixar
Fonte: Super Esportes
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