Em um mercado dominado por negociações de patrocínio, vendas de direitos de
transmissão e, nos melhores casos, bilheterias, o futebol brasileiro começa a
atentar para outra fonte de receita. Os licenciamentos ganham maior participação
no faturamento dos principais clubes do país, e a principal razão está no
surgimento de redes de lojas sob o formato de franquias.
O melhor exemplo é o Corinthians, campeão do último Campeonato Brasileiro e
dono do maior faturamento do país. De 2007 para 2011, segundo consta nos
balanços financeiros anuais, a verba levantada com produtos licenciados saltou
de R$ 300 mil para R$ 14 milhões. Esse período coincide com a estruturação da
“Poderoso Timão”, como são chamadas as lojas da equipe paulista.
O segredo corintiano foi depositar nas mãos de uma empresa especializada na
área a responsabilidade de administrar o projeto. A SPR Franquias, constituída
em 2008 para atuar com a produção de vestuário, viu a oportunidade de estar nas
duas pontas do processo: de um lado, fabricaria camisetas, entre tantos outros
produtos, e de outro montaria uma rede de lojas para escoá-las.
Quando a companhia chegou ao Corinthians, encontrou como fornecedora oficial
de materiais esportivos do clube a Nike, dona dos direitos sobre qualquer peça
que tivesse a marca da equipe. “Havia uma empresa com exclusividade e uma enorme
demanda reprimida por moda casual, roupas com preços menores, para usar no
cotidiano”, explica Pedro Grzywacz, diretor da SPR.
A solução foi acertar acordo com dirigentes e executivos da fabricante de
materiais esportivos norte-americana: a Nike concordaria em deixar a nova
parceira fazer linhas de produtos unbranded, isto é, sem a marca da fabricante,
e assim a SPR teria melhores condições para administrar uma rede de franquias,
que acabaria aumentando as vendas tanto dela quanto da Nike.
As lojas começaram a ser abertas em outubro de 2008. Até o fim daquele ano,
eram 12 unidades. No fim de 2011, esse número subiu para 113, e a “Poderoso
Timão” registrou faturamento de R$ 178 milhões. Esses resultados fizeram com que
a SPR expandisse o modelo de negócios para Vasco e São Paulo, inicialmente, e
depois para Botafogo, Cruzeiro e Internacional.
Atuação nacional
Uma das grandes vantagens de abrir franquias está no fator geográfico. Para
clubes com torcedores espalhados por todo o país, como Corinthians e Vasco, eles
representam consumidores em potencial de produtos licenciados, e portanto
precisam ser alcançados de algum modo. Foi com essa mentalidade que os cariocas
começaram o processo para montar a “Gigante da Colina”.
“Nós temos a intenção clara de expandir para o Norte e o Nordeste, porque o
Vasco tem quase 50% dos torcedores fora do Estado do Rio de Janeiro. E fora
daqui há muita pirataria, então vamos dar preços acessíveis e uma oferta maior
de produtos oficiais, com selo de autenticidade”, explica Marcos Blanco, diretor
de marketing do time cruzmaltino, cuja receita tem se expandido.
Em 2008, por exemplo, licenciamentos renderam aos cofres vascaínos R$ 350
mil, número que subiu para R$ 7,9 milhões em 2011. A meta consiste em abrir 100
lojas durante os cinco anos de contrato, atualmente no segundo deles, e chegar a
regiões como Manaus, Brasília, Natal, João Pessoa, Vitória entre tantas outras
cidades com alta concentração de torcedores da equipe.
Modelo em expansão
A fórmula praticada com sucesso pela SPR e anteriormente testada por outras
empresas com péssimos resultados, como a Roxos e Doentes, começou a ser
replicada a partir do segundo semestre de 2011. A Meltex, companhia com know-how
em gestão de produtos licenciados, decidiu expandir a atuação e partir para as
lojas de clubes de futebol da elite brasileira.
A empresa conseguiu assinar contrato com o Grêmio em setembro do ano passado
e abriu a primeira unidade em maio deste ano, após meses de estudos sobre
hábitos de consumo dos gaúchos, locais adequados para abrir franquias, entre
outros detalhes. O objetivo é fazer com que a rede tricolor possua 70
estabelecimentos em funcionamento em cinco anos.
Aos poucos, as lojas são aperfeiçoadas e ganham novos papéis. No Rio Grande
do Sul, a Meltex pretende abrir dois modelos: um intitulado Grêmio Mania
Express, na qual haverá apenas a venda de produtos licenciados, e a Center, um
local no qual, além do comércio regular, haverá planos de associação disponíveis
e ambientes feitos para reunir e aconchegar fãs.
Além dos gaúchos, a companhia também acertou acordos preliminares com Santos
e Palmeiras. No primeiro caso, falta costurar o negócio com Nike e Netshoes,
parceiras santistas, e no segundo ainda há problemas de ordem política com
dirigentes palmeirenses. Até porque, no futebol, a gestão ainda não é tão
profissional quanto casos como Corinthians e Vasco sugerem.
Fonte: Época NEGÓCIOS
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